Andando calmamente pela calçada, a casquinha continuou em suas mãos. No chão, duas bolas de sorvete estavam uma ao lado da outra.
Encostou-se na parede da casa número 1813. Olhou para o rastro deixado em seus dedos pela queda do sorvete e para a casquinha vazia. Fechou os olhos e, quando voltou a abri-los, percebeu que o sorvete já não era mais verde e imóvel, mas preto, marrom e vermelho – e se mexia. Não se perguntou de onde saíram as formigas. Dentro de sua cabeça apenas conseguia pensar na inevitabilidade e irreversibilidade das ações e na impotência do homem perante o tempo. A incapacidade de seguir em frente, não apenas por se arrepender do passado ou não conseguir deixa-lo passar, mas também pelo medo de saborear o futuro em razão de sua estranheza; não era o futuro a síntese maior do desconhecido?
“O que eu estou fazendo?”
Foi apenas uma sorvete que caiu, mas ali viu-se questionando toda a sua existência.